Em meio a uma das disputas mais delicadas dentro da Igreja Católica nos últimos anos, o cardeal italiano Angelo Becciu anunciou que não participará do conclave que escolherá o próximo papa. A decisão, segundo ele, é fruto de sua obediência à vontade expressa do Papa Francisco, que, mesmo sem uma sanção formal, deixou claro que desejava sua exclusão do processo.

Quem é o cardeal Angelo Becciu?

Angelo Becciu, 76 anos, foi um dos homens mais poderosos do Vaticano. Atuou como substituto da Secretaria de Estado e foi considerado braço direito de Francisco em diversos assuntos da Cúria Romana. No entanto, seu envolvimento em um escândalo de corrupção relacionado à compra de um prédio de luxo em Londres acabou abalando sua reputação.

Em 2020, Becciu renunciou aos seus privilégios como cardeal após ser formalmente acusado de peculato e outros delitos financeiros. Em 2023, foi condenado a cinco anos e meio de prisão, mas recorreu da sentença e continuou mantendo o título de cardeal, o que, tecnicamente, lhe garantia direito de voto no conclave por ter menos de 80 anos.

A posição do Papa Francisco

O Papa Francisco não emitiu um decreto formal para impedir Becciu de votar no conclave. Contudo, documentos divulgados nesta semana revelaram duas cartas, uma de 2023 e outra de março de 2025, assinadas pelo pontífice, nas quais ele expressa claramente seu desejo de que Becciu não participasse da escolha de seu sucessor.

Essas comunicações foram entregues pessoalmente pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, e pelo camerlengo, demonstrando que o pedido era oficial, embora não jurídico. Frente à pressão moral e institucional, Becciu decidiu abrir mão do seu direito ao voto.

Declarações de Becciu e impacto na Igreja

Em nota, o cardeal afirmou que sua decisão é motivada por obediência e lealdade ao Papa e à Igreja. Ele reiterou que continua se considerando inocente das acusações que lhe foram atribuídas e afirmou esperar que a justiça o reabilite no futuro.

A desistência de Becciu é vista como uma medida que evita um novo constrangimento para o Vaticano. A sua presença no conclave poderia gerar dúvidas quanto à legitimidade do processo, sobretudo em um momento sensível como a transição papal.

O que muda para o Conclave?

Com a saída voluntária de Becciu, o número de cardeais eleitores agora é de 134. Essa decisão, apesar de não alterar significativamente o quadro eleitoral, reforça a tentativa do Papa Francisco de manter o conclave livre de influências comprometedoras e pautado pela ética e integridade.

O próximo conclave, ainda sem data definida, será observado atentamente por fiéis e analistas do mundo todo. A sucessão de Francisco carrega o desafio de manter os avanços reformistas e lidar com os escândalos que ainda reverberam dentro dos muros da Santa Sé.

Conclusão

O caso Becciu é mais um episódio que revela os bastidores de poder e tensão dentro do Vaticano. Sua exclusão voluntária do conclave demonstra a força política do Papa Francisco e os limites que ele impõe a membros envolvidos em escândalos. A sucessão papal deverá acontecer sob forte escrutínio e será decisiva para o futuro da Igreja Católica.