
Arthur Lira articula novo ‘acordão’ para salvar aliados e travar investigações da PF
O poder dos bastidores: Lira movimenta as peças do tabuleiro
Arthur Lira, atual presidente da Câmara dos Deputados, tem se consolidado como uma das figuras mais influentes da política brasileira. Com apoio sólido do Centrão, ele comanda a pauta legislativa com mão de ferro — e agora, segundo fontes nos corredores de Brasília, articula um novo “acordão” com o objetivo de blindar aliados políticos de investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
A estratégia envolve barrar CPIs, alterar a composição de comissões, influenciar votações estratégicas e travar requerimentos que possam desencadear crises institucionais para membros da base aliada e da própria cúpula da Câmara.
O alvo: operações em curso e investigações sensíveis
As movimentações de Lira ocorrem no momento em que a Polícia Federal intensifica investigações sobre escândalos que envolvem parlamentares, incluindo apurações sobre desvios de emendas parlamentares, fraudes em licitações de obras públicas e até mesmo conexões com milícias digitais que atuaram nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Fontes da PF revelaram que pelo menos três inquéritos em andamento podem atingir diretamente figuras do alto escalão do Congresso — e há receio de delações premiadas que comprometam ainda mais o ambiente político.
O papel do PL da Anistia na engrenagem
Embora o PL da Anistia esteja formalmente desvinculado das articulações de Lira, é inegável que o clima político criado por esse projeto favorece a criação de um ambiente de proteção mútua. O texto, que pode anular penas e investigações contra participantes dos atos golpistas, é visto como um teste de força entre o Legislativo e o Judiciário.
A aprovação do PL abriria precedentes perigosos para outras anistias futuras, inclusive para parlamentares envolvidos em esquemas de corrupção. Lira, embora evite declarações públicas, tem se posicionado nos bastidores como peça-chave para garantir sua tramitação, mantendo uma postura ambígua que lhe permite negociar com diferentes blocos.
Blindagem institucional e controle de CPIs
O chamado “acordão” articula também a contenção de CPIs incômodas. Entre elas, a CPI das ONGs na Amazônia, a CPI das Apostas Esportivas e, principalmente, propostas de CPIs para investigar a conduta de parlamentares nos atos antidemocráticos. Lira estaria exigindo fidelidade de líderes partidários para bloquear esses pedidos e impedir que avancem com força midiática.
Além disso, mudanças em regras regimentais estão sendo discutidas para restringir o número de CPIs simultâneas, sob a justificativa de evitar “instrumentalização política”. Críticos veem isso como mais uma tática de abafamento institucional.
Oposição e STF monitoram a movimentação
Ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes, têm acompanhado com atenção as manobras do Legislativo. Há receio de que a atuação do Congresso, impulsionada por líderes como Lira, crie uma blindagem que inviabilize investigações legítimas e promova um cenário de impunidade semelhante ao do “mensalão” e do “petrolão”.
A oposição também se articula. Parlamentares do PSOL, PT, Rede e Cidadania têm protocolado pedidos formais de investigação contra aliados de Lira e exigido transparência nos processos legislativos. No entanto, enfrentam barreiras políticas e regimentais para avançar.
Analistas alertam para um novo ciclo de impunidade
Especialistas em ciência política e juristas já apontam o risco de um novo ciclo de impunidade institucionalizada. O cenário lembra os anos posteriores à Lava Jato, quando diversas figuras foram absolvidas, anistiadas ou beneficiadas por decisões políticas. Agora, com a fragilidade das instituições e o acirramento das eleições de 2026, o “acordão” liderado por Lira pode representar um retrocesso ainda maior.
Segundo o cientista político Cláudio Couto, da FGV, “a combinação de hiperpresidencialismo legislativo com um Judiciário acuado pode desmontar os freios e contrapesos da democracia brasileira”.
um Congresso em xeque
A articulação de Arthur Lira vai além de uma simples estratégia de bastidor: representa um embate direto entre as instituições da República. A tentativa de travar investigações, enfraquecer CPIs e manipular a pauta legislativa pode ter efeitos duradouros sobre a confiança da população nas instituições democráticas.
Com a aproximação das eleições de 2026, o risco é de que o Congresso se torne refém de seus próprios interesses, afastando-se das demandas populares e consolidando um sistema onde a impunidade é moeda de troca política.